Ademir veste a amarelinha desde 1989 e tem um currículo extenso de vitórias
POR GABRIEL FARIAS

Ademir Cruz de Almeida é um gonçalense de 47 anos acostumado a levantar troféus pela seleção brasileira. Não aquela cercada de marketing e capitaneada pela contestada CBF, mas sim pela equipe canarinho de futebol para amputados. Desde 1989 ele coleciona conquistas, a mais recente delas alcançada no início do mês: a Copa América do México.
O título da competição continental foi o terceiro de Ademir no torneio. O caneco veio com triunfo por 2 a 0 sobre a Argentina. O atleta de São Gonçalo ainda tem em sua galeria as taças de quatro mundiais (sendo dois como capitão e um sendo eleito o craque da competição).
— Renovamos 90% da equipe, que está mais jovem, com atletas de bom preparo físico. Eu fui mais na função de líder, para ajudar no trabalho técnico, psicológico, colaborando e passando tranquilidade – explicou Ademir, que também preside a ABDF (Associação Brasileira de Desportos para Deficientes Físicos).
Resultados como o alcançado na Copa América ajudam a impulsionar a modalidade, que é disputada nos moldes do futebol de 7, com seis atletas na linha e um goleiro. A luta é para que o futebol para amputados entre no cronograma das paralimpíadas futuramente.
— Conversamos muito com os atletas para eles entenderem bem e assimilarem nossa filosofia, pois há uma grande dificuldade para desenvolver o esporte, que não é paralímpico – conta.
Trabalho árduo fora de campo
Se dentro das quatro linhas Ademir é um “papa-títulos”, fora delas ele mergulha no trabalho burocrático a fim de fazer crescer o futebol para amputados no Brasil. O presidente da ABDF comemora o fato de ter conseguido cumprir o calendário estipulado para 2015 e cita a adesão de clubes de massa à modalidade como fator importante.

— Com muita força de vontade dos que estão à frente conseguimos cumprir o calendário, com Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Estaduais e a prepação da seleção em seis etapas.
— Equipes profissionais como Corinthians (SP), Vila Nova (GO) e Audax (SP), por exemplo, estão apoiando. Isso agrega muito valor. Ajudam muito com as parcerias, que geram desenvolvimento e visibilidade ao futebol para amputados — ressalta o gonçalense.
Acidente em 1982 mudou a rota da vida de Ademir
Um motorista embriagado, um carro desgovernado e um jovem de 12 anos atingido. Esse foi o cenário que poderia ter deixado Ademir mergulhado em uma depressão, mas ele buscou a volta por cima. Encontrou no esporte sua válvula de escape e hoje tenta passar essa visão para mais pessoas.

— O futebol de amputados é minha vida, eu diria. O objetivo não é de performance, mas primeiro a inclusão sosial. O resultado é o atleta se interessar e conquistar algo que faz bem para a vida. Trabalhamos isso e culmina na conquista. Para quem sofre um acidente, chegar hoje e ser campeão, tem valor muito estimado — encerrou.
E assim São Gonçalo coleciona grandes personagens no esporte. Que exemplos como os de Ademir possam reforçar o orgulho por gente que, como ele, faz a diferença no dia a dia.