Após se encantar pela profissão em 2002, Dennis passou por clubes de médio porte, no Rio de Janeiro, até se aventurar na China e Kuwait
POR GABRIEL FARIAS

O talento dos jogadores dentro do campo ou a grande capacidade de treinadores em montar boas equipes acabam por inibir a importância que outros profissionais possuem nos bastidores do futebol. Todo clube bem estruturado, por exemplo, possui um bom departamento de fisioterapia. E essa é a função que vem abrindo portas para o gonçalense Dennis Rodrigues, de 35 anos.
Dennis se encantou pela fisioterapia em 2002, quando viu o atacante Ronaldo, herói do título mundial brasileiro, agradecendo aos profissionais que foram fundamentais em sua recuperação de uma grave lesão no joelho. A partir dali decidiu: iria se dedicar a recuperar e prevenir jogadores das lesões.
A carreira começou em clubes médios do Rio de Janeiro, como Cabofriense, Madureira, Olaria e America. A partir de 2012 foi que sua trajetória mudou completamente. Surgiu o primeiro desafio internacional na China. Lá ajudou na recuperação de atletas do Beijing Guoan, time local.
— Foi a primeira oportunidade fora do Brasil, onde pude lidar com grandes atletas. Atuava numa clínica que fazia a recuperação dos jogadores do clube. A principal dificuldade ficou por conta da alimentação e do idioma. Foi complicado — lembra o fisioterapeuta, que passou alguns apuros para se comunicar com os chineses.
No Kuwait, estabilidade e reconhecimento

Dennis teve um breve retorno ao Brasil em 2013 antes de partir para uma nova aventura, dessa vez no Kuwait, outro país asiático. Mais uma vez deixou a família no Brasil em busca do seu sonho. E segue lá até hoje, sendo responsável pelo departamento de fisioterapia do Kazma, clube da elite nacional.
— Primeiro veio o choque cultural. Cheguei ao país na época do Ramadã, onde eles passam praticamente o dia inteiro jejuando e retirados em casa. Tudo acontecia à noite. Estranhei bastante — recorda.
Os percalços, após três anos, foram superados. Enquanto possui uma bela estrutura para desenvolver seu trabalho no clube, também se sente tranquilo com a infraestrutura do país, muito elogiada por Dennis.
— Fazemos um trabalho focado em recuperação dos lesionados e outro que faz a prevenção, que é fundamental para não perdermos tantos jogadores contundidos na temporada. Sobre o país, não temos qualquer preocupação. Tudo funciona muito bem — explica Dennis, que tem dois jogadores brasileiros como colegas de clube no Kuwait.
Convocação para o Timor Leste e quebra do preconceito sobre muçulmanos

O bom trabalho desenvolvido no Kazma rendeu até mesmo um convite inusitado. Dennis viajou junto com a seleção nacional do Timor Leste, pequeno país asiático – só libertado da ocupação da Indonésia em 1999 – para um amistoso justamente contra a Indonésia, onde atuou como fisioterapeuta da equipe nacional.
A passagem de Dennis pela Ásia vem se tornando também um ganho cultural para o profissional, que convive com grande maioria de muçulmanos.
— O povo muçulmano é belíssimo e ganhei muitos amigos aqui. O que chega muitas das vezes para nós no Brasil, é uma visão distorcida do islamismo, que é uma religião muito bonita — conta Dennis.
A única dificuldade que Dennis não consegue se adaptar é com relação à saudade da esposa e dos pais, que ficaram no Brasil. Vê-los só é possível nas férias.
— Sem os meus pais e minha esposa eu não chegaria aqui. Bate a saudade, é difícil. Sonho voltar ao Brasil, mas para trabalhar num clube de ponta. Atualmente pretendo continuar no Kuwait, onde tenho estabilidade — confessa.
Dennis vc merece abraços seu amigo Fabiano Bandeira